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ENEA25 - Como libertar “A Geração Ansiosa”?

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No Encontro Nacional, o coordenador do Relational Lab, Rui Marques começou por dar as boas vindas aos participantes. Destacando as várias inovações desta edição, Rui Marques sublinhou que os trabalhos dos três dias iriam apostar num "equilíbrio maior entre oradores e tempos de trabalho em rede".

A primeira sessão deste encontro nacional focou o livro "A Geração Ansiosa", do psicólogo Jonathan Haidt. "Este é um livro essencial para perceber as novas gerações", destacou Rui Marques, que conduziu a sessão, descrevendo a obra como sendo "de grande atualidade" e especialmente "útil para este arranque de trabalhos". O interesse deste tema, explicou, deve-se ao facto de estes adolescentes estarem "prestes a chegar às universidades e às instituições de ensino superior".

Uma das primeiras ideias destacadas por Jonathan Haidt na sessão é a de "a grande reconfiguração da infância" ocorrida por volta de 2010, com a introdução dos ecrãs no quotidiano, através dos smartphones, e o consequente acesso a aplicações como redes sociais e jogos online.
A obra "A Geração Ansiosa" mostra existe uma correlação entre estas alterações e um aumento da ansiedade que Rui Marques descreveu como "essencial para compreendermos o que está a acontecer com esta geração". "O livro tem uma fundamentação estruturada a partir de dados, não é só uma visão", reforçou, antes de acrescentar: "Este é um problema global, em Portugal, as tendências são as mesmas, sem diferenças significativas".

No Ensino Superior e no Emprego
O que implica este contexto para as instituições de ensino superior? Para Rui Marques, estes novos estudantes poderão ter períodos de adaptação mais difíceis, com muitos jovens a enfrentar desafios com autonomia, gestão de tempo e lidar com adversidades. Por outro lado, deverá também haver uma maior procura de apoio emocional, com procura de serviços de saúde mental. A solidão é também uma dimensão a ter em conta e a consequente preferência de ambientes inclusivos e comunidades de pertença.

Sobre o mercado de trabalho, os dados partilhados por Jonathan Haidt apontam para uma dificuldade dos jovens em lidar com o fracasso ou crítica, bem como a tendência para a resistência a ambientes altamente competitivos ou que exijam esforço sem recompensa imediata e a hierarquias rígidas, bem como à falta de propósito.

A "reconfiguração da infância" descrita pelo autor resultou em quatro consequências nos comportamentos dos jovens pré-adolescentes: privação do sono, privação social, fragmentação da atenção e novas dependências. O desfasamento do modelo pedagógico com esta realidade, sublinhou Rui Marques, "resultou numa crise do sistema de ensino", com uma realidade escolar "completamente desalinhada com esta geração".
De forma a mitigar as consequências negativas deste contexto, Jonathan Haidt aponta como solução adiar o acesso das crianças à Internet, com a utilização de telemóveis tecnologicamente limitados, e a "não utilização de redes sociais até aos 16 anos, bem como o estímulo do contacto com o "mundo real". "O grande slogal de Haidt é 'libertem a geração ansiosa'", destacou Rui Marques, antes de concluir: "Há um sentido de urgência – temos de olhar para os tempos que vivemos e encontrar caminhos alternativos".